Uma Aventura em Macau
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Arlindo Fagundes
Editorial Caminho
Coleção , nº35
0 pp
sob consulta
Resumo/Apresentação
Macau fica na China. E na China é tudo diferente. Quando o grupo é selecionado para esta longa viagem fica delirante. À chegada as coisas complicam-se porque nenhum deles fala chinês, não conseguem comunicar e perdem-se no emaranhado de ruas labirínticas repletas de painéis tão vermelhos e tão dourados que acabam por se tornar assustadores. Quem lhes vale é Tang, um rapaz simpático que se prontifica a servir de guia. Tudo parecia bem encaminhado quando começam a ser perseguidos por um bando vestido à oriental que os ataca sem motivo e os bombardeia com o número 14, que na China é considerado número de azar, sinal de morte certa.
Vê aqui as fotografias que as autoras tiraram durante a pesquisa para esta Aventura!
ISBN/ 9789722110006
Excerto do Livro
«Noite alta desembarcaram numa ilhota selvagem das muitas que polvilham a costa sul da China. Já estavam todos acordados mas atordoadíssimos. Limitaram-se a trocar olhares fugidios porque não servia de nada falarem. O cão devia conhecer bem o local. Embrenhou-se na vegetação, correu direto para uma clareira e desatou a farejar troncos e rochas com manifesta alegria. Empurrados pelo cano das espingardas, seguiram também para o mesmo local. Sentaram-se na areia, exaustos. Embora estivesse escuro, aperceberam-se de quem uma reentrância de rocha servia de abrigo aos caixotes. Havia ali outras embalagens, decerto cheias de objetos roubados. Enquanto os homens arrumavam a mercadoria, o cão girava em círculos à volta deles, sem ladrar mas pronto a saltar-lhes em cima se fosse preciso. João abraçara os próprios joelhos e mantinha-se com a cabeça de lado. De vez em quando soltava um assobio ténue e o cão imobilizava-se, arqueando o dorso.
— Cala-te, João! Se o pões mais nervoso do que ele já está ainda comemos todos pela medida grande.
Fez de conta que não ouviu e continuou com a sua melodia a intervalos regulares. O cão chegou-se rosnando. Em vez de mostrar medo, João estendeu a mão e pousou-a no areal como quem diz "Morde se quiseres". A atitude de abandono pareceu perturbar o animal. Farejou-os. Os outros seguiam a cena de olhos arregalados. Qual seria a ideia? As gémeas, muito juntas, pareciam uma pessoa com duas caras.
"Vai dominá-lo", repetiam em pensamentos. "Vai dominá-lo"
— Laiaf...
— O que é que o João disse?
— Não sei. Talvez tenha ouvido o nome do cão em chinês e esteja a tentar chamá-lo.
Calaram-se, ansiosos por entender a conversa que ele estabelecera com a fera.
— Laiaf... Laiaf...
E de novo a musiquinha leve, breve, sugestiva. Conhecendo-lhe os dons, não se admiraram que surtisse efeito. O bicho deixou de rosnar e ficou estático como se estivesse hipnotizado. Fixava-se no estranho rapaz de olhos redondos que emitia sons macios, e sem perceber porquê perdeu a vontade de morrer. Hesitante, estendeu uma pata.
— Laiaf... pronunciou o João docemente. — Laiaf... Anda cá!
Aquelas palavras desconhecidas atraíam-no. Estendeu a outra pata e ficou muito perto, de cabeça erguida e língua de fora, mas ainda em posição de alerta.»
(in Uma Aventura em Macau, pp. 174-175)