A Terra Será Redonda?
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Arlindo Fagundes
Editorial Caminho
Coleção , nº5
304 pp
sob consulta
Resumo/Apresentação
Quando os navegadores portugueses descobriram que era possível navegar para sul do cabo Bojador, a maior parte dos homens ainda tinha dúvidas sobre a forma da Terra. Seria plana ou redonda? Quando mergulharam nessa época, Orlando teve o cuidado de lembrar ao João que não podia dar informações aos homens do passado. Mas ele acabou por não resistir e revelou a verdade ao seu amigo Pedro Afonso. Só não foi expulso da AIVET porque tanto ele como a irmã demonstraram grande coragem na altura de recuperar o tesouro roubado a um simpático chefe africano.
ISBN/ 9789722100540
Excerto do Livro
«Finalmente, ao sexto dia qualquer coisa mudou. Deviam ser umas seis da tarde quando viram o Sol inclinar-se no horizonte, vermelho como nunca. Parecia incendiar-se numa imensa labareda redonda. Ao mesmo tempo, relâmpagos e trovões atroaram os ares. Aquilo eram sinais de tempestade. Os marinheiros conheciam-nos bem!
Firme e severo, Diogo Cão chamou todos aos seus postos. Cambaleando de fraqueza, subiram ao convés. O Pedro Afonso foi com eles, embora ardesse em febre, com as gengivas inchadas e a boca transformada numa ferida horrível.
De repente, uma névoa escura abateu-se sobre as caravelas e os ventos surgiram com força, soprando de todos os lados em remoinho. As águas moveram-se num vaivém impetuoso e logo do céu caiu uma chuvada tão grossa que o barco ficou sem governo.
— O abismo! — gritou o Pedro Afonso, desvairado. — Vamos cair no abismo.
Encharcado até aos ossos caminhava pelo convés de braços erguidos como uma alma penada.
— Chegamos ao fim do mundo! Vamos morrer.
Raios e coriscos caíram sobre o mar, com grande estrondo. Os ventos tornaram-se tão fortes que encapelavam as ondas, e elas abriram-se raivosamente, como se quisessem engolir barcos e gentes de uma só vez.
Uma única ideia enchia-lhes o pensamento:
— Temos de nos salvar! Temos de nos salvar!
Só o Pedro Afonso parecia atraído pelo turbilhão e, encostado à amurada, repetia sempre:
— Cecília! Chegámos ao abismo! A terra acaba aqui!
O João correu para ele, receando que se atirasse ao mar.
— Pedro, vem para baixo!
Mas ele não ligou. Olhando-o, não dava mostras sequer de o conhecer.
Com força redobrada, deitou-lhes a mão a um ombro.
— Estúpido! Vem comigo!
— O abismo! O abismo!
— Qual abismo qual carapuça! É só uma tempestade! — berrou-lhe ao ouvido, pois os trovões, a chuva e o rugido do mar abafavam tudo o mais.
— Vamos morrer! Vamos morrer!»
(in A Terra Será Redonda?, pp. 124-125)