Mistérios da Flandres
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Arlindo Fagundes
Editorial Caminho
Coleção , nº8
304 pp
sob consulta
Resumo/Apresentação
Certo dia, estando Ana e João no laboratório de Orlando, ouvem estranhos ruídos, vêem luzes, a parede estremece e, quando menos esperam, cai-lhes um homem aos pés. Quem é? Que ajuda lhe podem prestar? Antes de poderem tirar conclusões, o homem desaparece por onde veio, ou seja, pelos corredores do tempo. Mas não chega ao seu destino porque fica entalado numa brecha. Corajosos como sempre, resolvem segui-lo dispostos a tudo para o libertar. Desembarcaram num campo coberto de neve...
(ISBN) 9789722100700
Excerto do Livro
«— Que é isto? Que é isto? Orlando, assustado, puxou-os para si e ordenou: — Deitem-se! Deitem-se no chão! Cubram a cabeça! As paredes vibraram, os vidros tilintavam, o candeeiro balançava cada vez mais depressa, e um silvo agudo disparou a crescer de tom, tão alto e tão intenso que... "Crash! Plash! Springt!" O espelho rebentou em mil estilhaços. Assombrados, olharam para a moldura, que continuava a vibrar como se fosse eléctrica enquanto na parede surgia primeiro o recorte, e depois a figura completa de um homem! — Meu Deus! O que é isto? — balbuciou Orlando, atónito. O estranho visitante, com os olhos esbugalhados de pavor, estremeceu, abriu e fechou a boca várias vezes, antes de cair redondo no chão murmurando "Help! Ik zit vast!" Rodearam-no, mudos de espanto. Quem era aquele homem? Que poder, que magia o tinha feito aparecer ali? Ana foi a primeira a ajoelhar-se. Tocou-lhe na testa e na cara com a ponta dos dedos. — Está a arder em febre! Orlando aproximou-se também e pegou-lhe no pulso como fazem os médicos. — As pulsações estão normais. Para quem atravessou quatro séculos, diria que até estão muito bem. — Como é que sabe que ele atravessou quatro séculos? — perguntou o João, pasmado. — Por causa da roupa. De facto, o homem vestia roupa de outros tempos. Calças de lã muito justas, de um verde-acinzentado. Camisa branca de tecido grosso e uma capa larga bastante velha. Não havia botões. Todas as peças eram presas por atilhos. Calçava uma espécie de botinhas feitas em cabedal tão fino como o que se usa para as luvas. Na cabeça, uma touca igual à camisa cobria-lhe parcialmente os cabelos ralos de um louro desbotado pelos anos. Já não era novo. Duas rugas profundas vincavam-lhe a cara de alto a baixo e as mãos, enrugadas também, tinham um estranho tom amarelo. — Não percebo como é que este indivíduo viajou pelo tempo sem máquina! — disse o Orlando, intrigadíssimo. — Que eu saiba é o primeiro que consegue semelhante proeza sem ficar pelo caminho.
— Quem será? Como se desejasse responder ao João, o homem abriu os olhos e pestanejou repetidamente, emitindo sons arranhados e guturais. Não compreenderam nada do que dizia, mas uma coisa era certa e segura, estava apavorado. A sua expressão transmitia um verdadeiro terror. Condoídos, tentaram ajudá-lo a levantar-se, mas quando lhe tocaram ele estremeceu como se tivesse apanhado um choque eléctrico, espalhando à sua volta uma nuvem de cristais brilhantes que se desfizeram no ar.»
(in Mistérios da Flandres, pp. 12-14)